Eu cresci numa terra pequena, daquelas onde eu
ia até à mercearia da esquina buscar o pacote de leite pela manhã e tinha de
cumprimentar todas as pessoas, porque mesmo que eu não as conhecesse bem, elas
sabiam quem eram os meus pais. É um daqueles sítios pacatos onde cresci à
vontade a brincar sem constante supervisão, porque por aqui podíamos perder-nos
sem perigo e podíamos sempre voltar para casa descansados porque a chave estava
na porta.
Agora as coisas já não assim, em 20 anos mudou
muita coisa: já não há o espaço de antigamente; para além da chave não poder
ficar na porta, ainda tem de se pôr portão; a mercearia fechou e as compras são
feitas no hipermercado no gigantesco centro comercial; e, esta para mim é a
mais difícil, já não posso ir pela rua a cumprimentar toda a gente, porque
corria o risco de me considerarem maluca! Ainda assim, não consigo ir pela rua
sem pelo menos fazer um sorriso amistoso a quem passa. A sério não há melhor do
que ir pela rua e receber um sorriso como se estivéssemos num sitio seguro onde
podemos confiar (claro que em troca em vez de sorrisos simpáticos já me vi em situações
desconfortáveis, a que me deixou mais chocada foi de uma senhora talvez com uns
70 anos que ao meu sorriso respondeu com um “dá-me uns trocos!” – arrasou completamente
o meu moral!).
Eu sei que talvez seja perigoso tentar resgatar
estes meus comportamentos de infância – os tempos são outros, dizem eles – mas,
era tão bom! Era tanto o mundo q eu queria
para os meus filhos!
E então há dias em que preciso de voltar à
terrinha da minha infância! Ontem fui às compras ao supermercado aqui perto,
quando estava na caixa uma senhora dizia ao funcionário, “Vim para aqui a pé e
agora levo mais carga do que devia!” e eu dei por mim a perguntar “Quer boleia?
Eu vou para aquele lado…” a senhora ficou uns segundos parada a olhar para mim
(talvez a ver se eu seria de confiança ou se teria um ar enlouquecido…) e
respondeu “Então se me puder deixar ali na rotunda…”. E assim foi, acabei por
levar a senhora a casa dela que era mesmo pertinho e eu praticamente nem me
desviei do caminho e fiquei feliz da vida.
Entenda-se eu daria sermão e missa cantada se a
minha irmã fosse tão imprudente, que “Onde é que já se viu, sabe-se lá quem é a
senhora, até podia ser perigoso, …”, mas poder por uns momentos cumprimentar as
pessoas na rua, mesmo as que não conheço, foi presente de Natal antecipado.
Eu também acredito nesse mundo... serà mal?.. :)
ResponderEliminarEu espero que não...
EliminarMas bastou saber que não estou sozinha nas minhas crenças para me fazer sorrir, obrigada por partilhar!