sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A minha aldeia


Eu cresci numa terra pequena, daquelas onde eu ia até à mercearia da esquina buscar o pacote de leite pela manhã e tinha de cumprimentar todas as pessoas, porque mesmo que eu não as conhecesse bem, elas sabiam quem eram os meus pais. É um daqueles sítios pacatos onde cresci à vontade a brincar sem constante supervisão, porque por aqui podíamos perder-nos sem perigo e podíamos sempre voltar para casa descansados porque a chave estava na porta.

Agora as coisas já não assim, em 20 anos mudou muita coisa: já não há o espaço de antigamente; para além da chave não poder ficar na porta, ainda tem de se pôr portão; a mercearia fechou e as compras são feitas no hipermercado no gigantesco centro comercial; e, esta para mim é a mais difícil, já não posso ir pela rua a cumprimentar toda a gente, porque corria o risco de me considerarem maluca! Ainda assim, não consigo ir pela rua sem pelo menos fazer um sorriso amistoso a quem passa. A sério não há melhor do que ir pela rua e receber um sorriso como se estivéssemos num sitio seguro onde podemos confiar (claro que em troca em vez de sorrisos simpáticos já me vi em situações desconfortáveis, a que me deixou mais chocada foi de uma senhora talvez com uns 70 anos que ao meu sorriso respondeu com um “dá-me uns trocos!” – arrasou completamente o meu moral!).

Eu sei que talvez seja perigoso tentar resgatar estes meus comportamentos de infância – os tempos são outros, dizem eles – mas, era tão bom! Era tanto o mundo q     eu queria para os meus filhos!

E então há dias em que preciso de voltar à terrinha da minha infância! Ontem fui às compras ao supermercado aqui perto, quando estava na caixa uma senhora dizia ao funcionário, “Vim para aqui a pé e agora levo mais carga do que devia!” e eu dei por mim a perguntar “Quer boleia? Eu vou para aquele lado…” a senhora ficou uns segundos parada a olhar para mim (talvez a ver se eu seria de confiança ou se teria um ar enlouquecido…) e respondeu “Então se me puder deixar ali na rotunda…”. E assim foi, acabei por levar a senhora a casa dela que era mesmo pertinho e eu praticamente nem me desviei do caminho e fiquei feliz da vida.

Entenda-se eu daria sermão e missa cantada se a minha irmã fosse tão imprudente, que “Onde é que já se viu, sabe-se lá quem é a senhora, até podia ser perigoso, …”, mas poder por uns momentos cumprimentar as pessoas na rua, mesmo as que não conheço, foi presente de Natal antecipado.

Ainda não cresci o suficiente para estar preparada para deixar de acreditar num mundo melhor, mais autêntico e, espero que, feliz!

 

2 comentários:

  1. Eu também acredito nesse mundo... serà mal?.. :)

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    1. Eu espero que não...
      Mas bastou saber que não estou sozinha nas minhas crenças para me fazer sorrir, obrigada por partilhar!

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