O meu sobrinho esteve
doente, nada de grave, uma prisão de ventre, mas o suficiente para o médico de
família o encaminhar para o hospital.
Dado condicionantes
várias, acabei eu no hospital com ele.
O meu menino-anjo, nem
se queixava, apesar de andar assim, continuava a comer, dormir e até brincar.
Mesmo no hospital, continuou entretido, quase bem-disposto. Até que lhe
aplicaram o microlax, aí, apesar de não ter chorado verdadeiramente, ficou a
contorcer-se e gemer de dores durante horas que tiveram minutos a mais. Com ele
nos braços, eu, perdida, fazia-lhe festinhas, massagens, tentava acalmá-lo o
melhor que sabia, dilacerada pela impotência de não poder afastar dele as
coisas más.
O tempo passou e 4
fraldas sujas depois, ele parecia estar mais cansado do que com dores. Voltámos
a casa e depois de o entregar nos braços da mãe cujas mãos eram pequenas demais
para todas as festas que lhe queria fazer, sentei-me sozinha e chorei todas as
lágrimas que o meu sobrinho conteve. Sentia-me cansada, fraca, impotente,
assustada…
Uma das minhas vividas
recordações de infância é de otites extremamente dolorosas que tinha, o meu pai
ficava ao meu lado a lançar-me ar quente para os ouvidos, que não sei se fazia
bem, mas acalmava a dor. Lembro-me de ser pequena e pensar que o meu pai estava
cansado, do dia de trabalho que tinha tido, do dia de trabalho que aí vinha, de
se desfazer em ar quente para meu conforto, e lembro-me de não conseguir
pedir-lhe para parar e dormir, pelo contrário ficava a suplicar-lhe ajuda até
adormecer de cansaço. Nunca na altura percebi que talvez o cansaço do meu pai,
acima de tudo, se devesse ao desespero de não poder fazer nada mais definitivo
a não ser ver o tempo passar.
Agora percebi o quão
arrasador pode ser, não consigo explicar, mas também não consigo pensar nisso
sem um nó na garganta.
Diz-se que pai é aquele que fica à nossa
cabeceira quando estamos doentes, e agora percebo que de facto é uma das provas
de fogo de ser pai…